Introdução
I. Ambiente histórico e geográfico do livro
A. É importante fazer uma distinção entre o tempo em que Jó viveu e o tempo quando o livro de Jó foi escrito.
B. Jó aparentemente viveu durante o tempo dos patriarcas, possivelmente perto do tempo de Abraão. Podemos concluir este fato pelas seguintes informações:
1. Não há no livro referências claras à lei de Moisés ou suas instituições. Isto seria incomum se Jó vivesse virtualmente em qualquer tempo depois de Moisés.
2. Jó oferece sacrifícios em favor de sua família, uma prática característica dos dias patriarcais, quando não havia sacerdócio estabelecido comparável com aquele sob a lei mosaica.
3. A provável duração da vida de Jó se ajusta bem ao tempo de vida comum dos patriarcas.
4. Parte da linguagem (mesmo o uso de certas palavras) sugere um ambiente nos dias patriarcais.
5. Dever-se-á notar que a força de alguns argumentos depende em parte da localização da terra de Uz.
C. A localização da “terra de Uz” é incerta. Há duas possibilidades principais:
1. Uz era a descrição de uma área entre Damasco e o rio Eufrates e na orla do deserto Arábico.
2. Uz era localizada na fronteira de Edom, no deserto Arábico. Esta possibilidade coloca Jó mais perto das localizações comumente aceitas para os lugares de origem dos três amigos.
II. Autoria do livro de Jó
A. Como se observou acima, é quase certo que o livro de Jó não foi composto no mesmo tempo em que a personagem histórica viveu.
B. O autor não se identifica e temos pouca evidência sobre a qual basear mesmo uma boa suposição.
1. Sugestões de escritores especialistas incluem Moisés, Salomão, Isaías, Jeremias, Baruque e o próprio Jó.
2. Há quem tenha sugerido que o autor viveu nos dias depois do exílio.
C. Naturalmente, mesmo que não saibamos explicitamente quem escreveu o livro de Jó, a consideração importante é que ele foi inspirado. Se aceitarmos o livro como inspirado, então ele faz parte da palavra de Deus e a pessoa específica que compôs o livro não é importante.
III. Exame do livro
A. O livro de Jó pode ser dividido em três partes principais.
1. O livro pode ser convenientemente dividido em:
a. Prólogo (capítulos 1 – 2)
b. Diálogo (capítulos 3 – 42:6)
c. Epílogo (42:7 ao fim)
2. Se o livro for dividido em cinco partes, elas poderão ser como segue:
a. Jó é provado (capítulos 1 – 2)
b. A controvérsia de Jó com seus amigos (capítulos 3 – 31)
c. A apresentação de Eliú (capítulos 32 – 37)
d. O Senhor fala a Jó (capítulos 38 – 41)
e. Jó é abençoado (capítulo 42)
B. Entre o prólogo e o epílogo, há basicamente três ciclos de discursos ou debates, como às vezes são chamados. Cada um dos três amigos de Jó fala e Jó lhes responde sucessivamente.
1. Zofar é o único que não fala uma terceira vez.
2. Na conclusão dos discursos por seus amigos, Jó apresenta um monólogo reafirmando sua inocência.
3. Em seguida ao monólogo de Jó, o jovem Eliú fala e oferece uma explicação ligeiramente diferente para o sofrimento de Jó.
4. Finalmente, interpelando Jó, Deus fala, demonstrando sua majestade.
C. A maioria dos estudiosos da Bíblia estão cientes de que o livro de Jó se relaciona com o problema do sofrimento e particularmente com o sofrimento humano inocente. Jó não entende porque está sofrendo e assim está posto o cenário para uma discussão do problema do sofrimento humano em geral.
1. Os três amigos de Jó partilhavam uma idéia comum, mas errônea, quanto à razão do sofrimento do homem, e de Jó em particular.
2. O raciocínio deles é resumido claramente assim:
a. O sofrimento é o resultado direto dos pecados pessoais e está em proporção com a magnitude dos pecados.
b. Jó, naturalmente, está sofrendo muito.
c. Portanto, Jó deve ter pecado gravemente.
3. O problema com o raciocínio dos amigos é que a sua premissa maior (o sofrimento é o resultado direto dos pecados pessoais) nem sempre é verdadeira. Há outras causas de sofrimento.
D. Personagens do livro:
1. Deus (prólogo e epílogo)
2. Satanás (prólogo)
3. Jó e sua família
4. Os três amigos de Jó: Elifaz, Bildade e Zofar
5. Eliú
E. Às vezes é sugerido que o livro de Jó é meramente um poema elaborado sem ter nenhuma base histórica. O escritor simplesmente inventou estas personagens com o propósito de ensinar Israel sobre o sofrimento (talvez no exílio?). Não obstante, outras referências bíblicas a Jó apontam-no em companhia de personagens históricas reais e aceitas.
IV. Informação sobre poesia hebraica
A. Não é surpreendente que uma grande parte do livro de Jó esteja na forma de poesia hebraica. A poesia tem sido descrita como a linguagem do coração e o livro evidencia uma personagem que está em grande angústia, tanto pelo sofrimento real como pela ignorância da razão do seu sofrimento. É portanto imperativo que o leitor tenha algum conhecimento da poesia hebraica.
B. Diferente do verso moderno que é reconhecido como poesia por causa de rima ou de metro, a poesia hebraica não depende de nenhum deles. Em vez disso, a poesia hebraica emprega um artifício conhecido como paralelismo. Há três tipos comuns de paralelismo:
1. Sinônimo – a segunda linha do dístico (grupo de dois versos) repete o pensamento da primeira linha (por exemplo, 4:7; este é o tipo mais comum de paralelismo no livro de Jó).
2. Antitético – a segunda linha do dístico forma um contraste com a primeira linha (por exemplo, 16:20).
3. Sintético – a segunda linha completa ou aumenta o pensamento da primeira (por exemplo, 4:9, 19:21).
V. Propósito do livro
A. Naturalmente, o livro inteiro trata do problema da dor e do sofrimento. Jó volta-se particularmente para o problema do sofrimento inocente.
B. Ao mesmo tempo, parece que este problema é ocasião para uma lição sobre viver pela fé. O livro é uma afirmação da glória e perfeição do Senhor, aquele que é digno de ser adorado e louvado. Observe que a acusação de Satanás concernente ao “serviço egoísta” de Jó é, na realidade, uma acusação contra o próprio Deus. Satanás está afirmando que não há outra razão para um homem servir a Deus se não pelas bênçãos físicas e assim Deus precisa subornar o homem com bênçãos materiais para receber adoração dele. A fidelidade de Jó no meio da tribulação prova ser a defesa do Senhor.
C. Há um bom número de outras doutrinas bíblicas que recebem atenção no livro e às quais daremos atenção nas lições que tratam do texto.
Perguntas sobre o livro de Jó para estudar:
1. Quando, provavelmente, viveu Jó? Qual evidência sugere isso?
2. Onde Jó viveu? Relacione as localizações possíveis de seu lar.
3. Quais eram os nomes dos três amigos de Jó e de onde era cada um deles?
4. Segundo os amigos de Jó qual era o motivo do sofrimento dele?
5. O que é “paralelismo”? Relacione e explique os três tipos discutidos nesta lição.
6. Que razão há para acreditar que Jó era um pessoa histórica real e não uma personagem fictícia?
7. Quem era Eliú?
8. Qual acusação Satanás fez concernente a Deus?
I. Introdução e provação de Jó (1:1 – 2:3)
A. O justo Jó (1:1-5)
1. Jó é apresentado como um homem de destacado caráter espiritual. Ele é descrito assim: aquele que era inculpável, reto, temia a Deus e repelia o mal.
2. Jó oferecia regularmente sacrifícios por seus filhos, caso algum deles tivesse “amaldiçoado a Deus.”
a. A idéia de blasfêmia ou desafio a Deus é um pensamento demasiado forte para o significado desta frase. A palavra traduzida literalmente se refere à bênção que acompanhava a partida de um visitante (veja Gênesis 31:55; Josué 22:6).
b. Jó estava preocupado com que seus filhos pudessem ter se apartado de Deus em seus corações, isto é, esquecido Deus e sua presença no meio de suas vidas diárias.
3. Esta descrição de Jó é especialmente importante à luz de acusações posteriores pelos seus três amigos.
B. O rico Jó (1:1-5)
1. Jó era abençoado a ponto de ser a mais grandiosa de todas as pessoas do oriente.
2. Ele tinha dez filhos.
3. São as bênçãos de Jó que ressaltam sua futura pobreza e sofrimento.
C. Confrontação no céu (1:6-12; 2:1-6)
1. Na primeira confrontação de Satanás com Deus, Satanás acusa Jó de possuir uma piedade interesseira.
a. Satanás sustenta que se Jó for privado de suas bênçãos materiais, ele cessará de servir ao Senhor.
b. O Senhor concede a Satanás poder para retirar tudo o que Jó tem, mas impede-o de ferir a pessoa de Jó.
2. Na segunda confrontação, quando defrontado com a fidelidade de Jó, Satanás afirma que Jó renunciará ao Senhor uma vez que sua pessoa real tenha sido afetada.
3. Deve-se notar que:
a. Satanás não tem poder para afligir Jó, a menos que Deus lho permita.
b. Satanás, mesmo no seu desejo de tentar destruir, realmente serve aos propósitos de Deus.
D. A provação de Jó (1:13-22; 2:7-8)
1. Perda dos bens materiais.
2. Perda dos membros da família.
3. Perda da saúde.
a. Alguém poderia sugerir que a doença de Jó possa ter sido uma forma muito severa de lepra, também conhecida como elefantíase-dos-gregos. Esta é conhecida algumas vezes como lepra negra, porque a pele fica enegrecida.
b. Qualquer que fosse a doença, parece claro que Jó sofreu com ela durante algum tempo e que foi muito séria e penosa. Alguns dos seus sintomas e efeitos podem ser deduzidos das passagens seguintes: 2:7-8, 12; 3:24-25; 7:4-5, 13-15; 19:17, 20; 30:17-18, 30.
c. A “cinza” mencionada em 2:8 é uma referência ao lugar fora da cidade onde estrume e outros resíduos seriam descarregados e periodicamente queimados. É bem provável que Jó tenha escolhido seu lugar ali porque sua doença tornava-o indesejável na aldeia.
E. As reações da esposa de Jó e dos amigos (2:9-13)
1. Parece que a esposa de Jó não era uma nobre personagem como ele. Ela o adverte a “dizer adeus a Deus” e morrer (veja 1:5 para a mesma palavra).
2. Pode ser que o conselho da esposa de Jó também seja o resultado da idéia de que o sofrimento é totalmente por causa do pecado. Ela raciocina que uma vez que Jó está sofrendo enormemente, ele deve ter pecado imensamente e está separado de Deus. “Amaldiçoar a Deus” não pioraria sua relação, mas poderia trazer morte e alívio para seu sofrimento temporal!
3. Os três amigos de Jó chegaram e sentaram-se com ele na terra, e permaneceram em silêncio durante sete dias; um período de luto comum pelos mortos (Gênesis 50:10; 1 Samuel 31:13), e isto pode ser alguma indicação de seus sentimentos pela situação dele.
II. As palavras de Jó a respeito de si [o seu monólogo] (3:1-26)
A. Jó amaldiçoa o dia de seu nascimento (vs. 1-10). De maneiras variadas, ele deseja que nunca tivesse nascido.
B. Na segunda parte de seu discurso, Jó continua dizendo que se ele tinha que nascer, teria sido melhor se tivesse nascido morto (vs. 11-19). A morte é pintada como uma libertação das dificuldades desta vida.
C. Jó termina seu monólogo sugerindo que acolheria com prazer a morte, porém ela não vem (vs. 20-26).
Perguntas Para Estudar:
Descreva o caráter de Jó. Que tipo de homem ele era?
2. Pode-se ser rico e ainda servir a Deus agradavelmente?
3. O que sabemos sobre “Satanás” como resultado de suas confrontações com Deus?
4. Satanás afirmou que Jó estava servindo a Deus por qual motivo?
5. Quem realmente feriu Jó com as diversas calamidades que sobrevieram a ele?
6. Qual foi a reação de Jó pela perda de sua riqueza e filhos?
7. Qual foi a reação da esposa de Jó ao sofrimento dele? A reação dos seus amigos?
8. Resuma brevemente as três partes do monólogo de Jó. Como a expressão da angústia de Jó foi semelhante à do profeta Jeremias (veja Jeremias 20)?
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